sábado, 18 de dezembro de 2010

Teoria da Extero-gestação



Os bebês humanos estão entre os mais indefesos de todos os
mamíferos. Por causa do maior tamanho do cérebro e do fato de
que o tecido nervoso necessita de mais calorias para se manter
que qualquer outro, grande parte do alimento ingerido é gasto
em prover nutrição e calor para as células nervosas. Mais
significante é o fato de que nossos bebês necessitam nascer mais
cedo do que deveriam, com seus cérebros ainda não totalmente
desenvolvidos. Se o bebê humano nascesse já com o sistema
nervoso central amadurecido, sua cabeça não passaria pela
pelve estreita da mãe no momento do parto. Ao contrário de
outros mamíferos, como girafas e cavalos, o recém-nascido
humano é incapaz de andar por um longo período após o
nascimento, porque lhe falta o aparato neurológico maduro
para tanto. O custo primal de ter um cérebro grande é que
nossos filhotes nascem extremamente dependentes e em
necessidade constante de cuidado.

O crescimento do nosso cérebro após o nascimento é mais
rápido do que o de qualquer outro mamífero e segue neste
ritmo por 12 meses. 

A seleção natural demanda que pais humanos cuidem de seus
filhos por um longo período e que os filhos dependam dos pais.
Esta necessidade mútua traduz-se em um estado emocional
chamado "apego".
Em algumas culturas, como na tribo! Kung, bebês raramente
choram por longos períodos e não há sequer uma palavra que
signifique "cólica". As mães carregam os bebês junto ao corpo,
com um aparato semelhante a um "sling", mesmo quando saem
para a colheita. A relação mãe-bebê é considerada sacrossanta,
eles permanecem juntos o tempo todo. O bebê tem livre acesso
ao seio materno e vê o mundo do mesmo ponto de observação
que sua mãe. 
Nossa cultura ocidental não permite um estilo de vida idêntico
ao de tribos primitivas, mas podemos tirar lições valiosas sobre
como ajudar nossos bebês na adaptação à vida extra-uterina. 

Nos primeiros 3 meses de vida, o bebê humano é tão imaturo
que seria benéfico a ele voltar ao útero sempre que a vida aqui
fora estivesse difícil.

É preciso compreender o que o bebê tinha à sua disposição
antes do nascimento, para saber como reproduzir as condições
intrauterinas. O bebê no útero fica apertadinho, na posição fetal,
envolvido por uma parede uterina morninha, sendo balançado
para frente e para trás a maior parte do tempo. Ele também
estava ouvindo constantemente um barulho "shhhh shhhh",
mais alto que o de um aspirador de pó (o coração e os intestinos
da mãe).
A reprodução das condições do ambiente uterino leva a uma
resposta neurológica profunda "o reflexo calmante". Quando
aplicados corretamente, os sons e sensações do útero têm um
efeito tão poderoso que podem relaxar um bebê no meio de uma
crise de choro. 
Os 5 métodos para acalmar um bebê até 3 meses de idade são
extremamente eficazes SOMENTE quando executados
corretamente. Sem a técnica correta e o vigor necessário, não
adiantam em nada.
1. Pacotinho ou casulo (embrulhar o bb apertadinho
A pele é o maior órgão do corpo humano e o toque é o mais
calmante dos cinco sentidos. Embrulhadinho, o bebê recebe um
carinho suave. Bebês alimentados, mas nunca tocados,
freqüentemente adoecem e morrem. Estar embrulhadinho não é
tão bom quanto estar no colo da mãe, mas é um ótimo
substituto para quando a mãe não está por perto.

Bebês podem ser embrulhados assim que nascem.
Apertadinhos, de forma que não mexam os braços. Eles se
sentem confortáveis, "de volta ao útero". Bebês mais agitados
precisam mais de ser embrulhados, outros são tão calmos que
não precisam. 

Se o bebê tem dificuldade para pegar no sono, pode ser
embrulhado apertadinho, não é seguro colocar um bebê para
dormir com um cueiro solto. Não permita que o cueiro encoste
no rosto do bebê. Se estiver encostando, o bebê vai virar o rosto
procurando o peito, ao invés de relaxar.

Todos os bebês precisam de tempo para espreguiçar, tomar
banho, ganhar uma massagem. 12-20 horas por dia
embrulhadinho não é muito para um bebê que passava 24 horas
por dia apertadinho no útero. Depois de 1 ou 2 meses, você
pode reduzir o tempo, principalmente com bebês tranqüilos e
calmos.
 
2. Posição de Lado
Quanto mais nervoso seu bebê estiver, pior ele fica quando
colocado sobre as costas. Antes de nascer, seu bebê nunca ficou
deitado de costas. Ele passava a maior parte do tempo na
posição fetal: cabeça para baixo, coluna encolhida, joelhos
contra a barriga. Até adultos, quando em perigo,
inconscientemente escolhem esta posição.

Segurar o bebê de lado ou com a barriga tocando os braços do
adulto ajuda a acalmá-lo (a cabeça fica na mão do adulto, o
bumbum encostado na dobra do cotovelo do adulto, com braços
e pernas livres, pendurados). Carregar o bebê num sling, com a
coluna curvada, encolhidinho e virado de lado, tem o mesmo
efeito. Atualmente especialistas são unânimes em dizer que
bebês NÃO DEVEM SER POSTOS PARA DORMIR DE
BRUÇOS, pelo risco de morte súbita.

O bebê não sente falta de ficar de cabeça para baixo, como no
útero, porque na verdade o útero é cheio de fluido e o bebê
flutua, como se não tivesse peso algum. Do lado de fora, sem
poder flutuar, virado de cabeça para baixo, a pressão do sangue
na cabeça é desconfortável.


3. Shhhh Shhhh - O som favorito do bebê
O som "shhh shhh" é parte de quem somos, tanto que até
adultos acham o som das ondas do mar relaxante. 

Para bebês novinhos, "shhh" é o som do silêncio. Ele estava
acostumado a ouvir tal som 24 horas por dia, tão alto quanto
um aspirador de pó. Imagine o choque de um bebê acostumado
a tal som o tempo todo chegando a um mundo onde as pessoas
cochicham e caminham na ponta dos pés, tentando fazer
silêncio!

Coloque sua boca 10-20 cm de distância dos ouvidos do bebê e
faça "shhh", "shhh". Aumente o volume do "shh" até ficar tão
alto quanto o choro do bebê. Pode parecer rude tentar "calar"
um bebê choroso fazendo "shh", mas para o bebê, é o som do
que lhe é familiar.

Na primeira vez fazendo "shhh", seu bebê deve calar pós uns 2
minutos. Com a prática, você será capaz de acalmar o bebê em
poucos segundos. É ótimo ensinar isso aos irmãos mais velhos,
que adorarão poder ajudar e acalmar o bebê.

Para substituir o "shhh", pode-se ligar:
- secador de cabelos ou aspirador de pó
- som de ventilador ou exaustor
- som de água corrente
- um CD com som de ondas do mar
- um brinquedo que tenha sons de batimentos cardíacos
- rádio fora de estação ou babá eletrônica fora de sintonia
- secadora de roupas ligada com uma bola de tênis dentro
- máquina de lavar louças

O barulho do carro ligado também acalma a criança.

"A vida era tão rica no útero. Rica em sons e barulhos. Mas a
maior parte era movimento. Movimento contínuo. Quando a
mãe senta, levanta, caminha e vira o corpo - movimento,
movimento, movimento."
(Frederick Leboyer, Loving Hands)
Quando pensamos nos 5 sentidos - visão, audição, tato, paladar
e olfato - geralmente esquecemos o sexto sentido. Não é
intuição, mas a sensação de movimento no espaço. 
Movimento rítmico ou balanço é uma forma poderosa de
acalmar bebês (e adultos). Isso porque o balanço imita o
movimento que o bebê sentia no útero materno e ativa as
sensações de "movimento" dentro dos ouvidos, que por sua vez
ativam o reflexo de acalmar.
Como balançar ?
1. Carregando o bebê num "sling" ou canguru;
2. Dançando (movimentos de cima para baixo);
3. Colocando o bebê num balanço;
4. Dando tapinhas rítmicos no bumbum ou nas costas;
5. Colocando o bebê na rede;
6. Balançando numa cadeira de balanço;
7. Passeando de carro;
8. Colocando o bebê em cadeirinhas vibratórias (próprias para
isso);
9. Sentando com o bebê numa bola inflável de ginástica e
balançando de cima para baixo com ele no colo;
10. Caminhando bem rapidamente com o bebê no colo. 

Quando balançar o bebê, seus movimentos devem rápidos mas
curtos. A cabeça do bebê não fica sacudindo freneticamente. A
cabeça move no máximo 2-5 cm de um lado para o outro. A
cabeça está sempre alinhada com o corpo e não há perigo de o
corpo mover-se numa direção e cabeça abruptamente ir na
direção oposta.
 
5. Sucção
No útero, o bebê está apertadinho, com as mãos sempre
próximas ao rosto, sugando os dedos com freqüência. Quando
nasce, não mais consegue levar as mãos à boca. A sucção não-
nutritiva é outra forma de acalmar o bebê. A amamentação em
livre demanda não é recomendada somente para garantir a
nutrição do bebê e a produção de leite da mãe, mas também
para suprir a necessidade de sucção não-nutritiva. Alguns
especialistas orientam às mães a darem chupetas para isso, mas
ainda que a chupeta seja oferecida ao bebê, não deve ser
introduzida nas 6 primeiras semanas de vida, quando a
amamentação ainda está sendo estabelecida. Há sempre o risco
de haver confusão de bicos e o bebê sugar o seio
incorretamente. 

É importante lembrar que o bebê nunca chora à toa. O choro
nos primeiros meses de vida é a única forma de comunicar que
algo está errado. Ainda que ele esteja limpo e bem alimentado,
muitas vezes chora por necessidade de aconchego e calor
humano. Por isso, falar que bebê novinho (recém nascido até 3
meses ou mais) faz manha (no sentido de chorar para manipular
"negativamente" os pais) não tem sentido. Bebês novinhos
simplesmente não tem maturidade neurológica para tanto.

Texto elaborado por Flavia Mandic

Bibliografia:
The Happiest Baby on The Block, Dr. Harvey Karp, Bantam
Dell, 2002. New York.

Our Babies, Ourselves: How Biology and Culture Shape the
Way We Parent, Meredith F. Small, Anchor Books, 1998. New
York

Nenhum comentário:

Postar um comentário